Fazer fotos de natureza para mim  é um momento de grande relaxamento e diversão. Talvez seja um dos lugares que eu mais gosto de passar o tempo, ao ar livre tomando banho de água fria e conectando novamente comigo mesmo.

Para que isso seja realmente uma atividade prazerosa (lazer ou profissional)  e não um trabalho árduo, vamos dar algumas dicas importantes para ajudar a não se chatear ou até mesmo se machucar.

Quais os pontos que vamos abordar:

1 - Equipamentos essenciais e opcionais
2 - O local da foto
3 - Tirando as fotos

O equipamento mais importante que você precisa para fotos lindas é uma câmera que permite o modo manual. Você também vai querer um tripé. Isso é o básico, caso o seu orçamento não seja muito grande e você esteja começando. Se tiver um pouco mais para investir, vamos indicar o que também poderia ser um incremento interessante.

 

(Foto: Cachoeira no Parque Nacional Krka, Croácia)

 

1 - Equipamentos:

1.1 - Câmera e cartões de memórias vazios (essencial)

 

Hoje em dia é fácil você achar uma câmera que te deixe operar em modo manual (muitos celulares já possuem essa opção). 

O modo manual vai te permitir controlar a velocidade do obturador (ou seja, quanto tempo de exposição você vai deixar a câmera captando a luz) e a abertura do diafragma da lente que vai te permitir mudar a profundidade (o famoso f, que em inglês significa focal length, ou distância focal), ou seja, dependendo do f que você usar, estará focando em um ponto específico e desfocando em outros ou deixando um foco mais uniforme nos diferentes planos da foto.

Existem diversas opções de câmeras no mercado, com diferentes tipos de sensores. Não vamos entrar em muito detalhes mas para que tenha uma ideia rápida, o sensor é a parte da câmera que permite captar a imagem, para depois ser processada e impressa. Quanto maior o sensor, melhor! (regra geral, pois se você comparar sensores pequenos de câmeras novas com os sensores maiores de câmeras antigas, talvez nem sempre essa regra irá valer).

Não se esqueça de levar pelo menos um cartão de memória extra. Hoje em dia eles são muito robustos, mas pode ser que no meio do caminho ele resolve não funcionar mais ou fique cheio.

Veja abaixo uma foto mostrando um pouco de cada sensor:

(foto retirada do site https://lensvid.com/technique/understanding-crop-factor-in-digital-cameras)

 

 

1.2 - lente grande angular (16 - 35mm f4) ou telefoto (70-200mm f4) (essencial)
   

Em muitos lugares você irá ter pouco espaço para montar o seu tripé e conseguir enquadrar a cachoeira em uma composição adequada. Para isso é importante a lente grande angular que vai te permitir em distâncias curtas, um ângulo de visão maior. Aqui você vai poder experimentar com diferentes aberturas da lente (f). Quanto maior o f, menos quantidade de luz no sensor da câmera e consequentemente você precisa diminuir a velocidade do obturador (isso vai te permitir deixar a água mais leitosa, como uma névoa).

Se você quer focar em algum ponto particular e deixar a foto mais desfocada em outros pontos, você pode diminuir o f, aumentando a abertura e compensar o excesso de luz com um filtro de densidade neutra para continuar com a velocidade baixa.

A lente telefoto é para ambientes que você não consegue se aproximar tanto por alguma restrição. Os dados de velocidade do obturador e abertura do diafragma da lente são parecidos com o da lente anterior. Faça alguns testes com diferentes parâmetros e veja qual resultado te agrada mais.

 

 

 

1.3 - tripé (essencial)
   

Existem dezenas de boas opções de tripés no mercado. Alguns fatores importantes para levar em conta na hora de decidir qual o melhor pra você: peso, material e custo.
    
Para trilhas e viagens quanto menor e mais leve, melhor. Porém nem sempre o mais leve será o melhor para a sua foto... Se o equipamento for muito leve, ele poderá não aguentar a sua câmera e lente e também poderá ser muito instável em situações de vento, trazendo movimentos indesejado durante a foto. Você tem que achar um meio termo entre mobilidade, estabilidade e preço.

Os mais populares são feitos de alumínio que tem um peso intermediário, podendo ser entre 1.3 kg até vários kilos. Muitos são fabricados em fibra de carbono e esses são, geralmente, o topo de linha. São mais leves, mais resistentes e em geral muito mais caros. 

 

 

1.4 - disparador por cabo, infra-vermelho ou bluetooth (opcional)
   

Isso o ajudará a evitar o movimento da câmera e imagens borradas (até mesmo o simples apertar do botão de tirar a foto pode ser suficiente para deixar a foto tremida). Isso também significa que você não precisa estar tão perto da câmera. O uso de um cabo reduz a necessidade de baterias. 

Os modelos de máquinas mais novas possuem a opção de fazer a foto observando todos os parâmetros através da tela do celular se conectando através de bluetooth e wifi. Se a sua não permite esse tipo de conexão, existem disparadores por infra-vermelho a preços acessíveis (alguns celulares também tem o sensor de infra-vermelho e podem funcionar).

 

(foto do site https://expertphotography.com/) 

 

1.5 - kit de limpeza de lente (opcional)

Fazer uma trilha significa se expor a poeira, chuva, respingos de água... Mais cedo ou mais tarde você irá precisar limpar a sua lente e melhor ter à disposição alguns itens básicos para evitar que a sua foto fique comprometida. Um pano de microfibra, um soprador de ar e um pincel são as partes importantes de seu kit.

 

1.6 - filtro de densidade neutra e graduado (opcional)

Filtro de densidade neutra pode ser usado reduzir a luz e permitir exposições mais longas. Quanto mais denso for o filtro, maior será a exposição, até mais de 30 segundos com um filtro muito denso. Essa longa exposição resulta em um movimento suave e leitoso da água, e permite você tirar lindas fotos mesmo quando a luz do dia estiver em uma posição desfavorável. Se você demorar muito, a imagem ficará borrada. Então, faça algumas fotos com diferentes tempos de exposição e depois no computador veja qual ficou melhor.

 

 

1.7 - mochila adequada (opcional)

Dependendo do percurso que for percorrer você irá precisar de uma ou duas mochilas: uma para seus equipamentos e outra para adicionais, como um lanche, água, capa de chuva, repelente, protetor solar, toalha e roupa de banho, já que o seu trabalho te trouxe para um lugar desses, por que não aproveitar!?

Se for uma trilha curtinha, possivelmente você conseguirá reduzir tudo para uma só mochila. O importante que a mochila seja confortável e ofereça a possibilidade de manter tudo bem seco.

 

1.8 - capa de chuva para proteção (opcional)

Dependendo da queda d´água e do vento, você será coberto por uma névoa de pequenas gotículas de água. O que pode ser bem refrescante ou bastante incômodo, ser for inverno. Uma capa de chuva vai te economizar de levar roupas extras caso fique ensopado (hehehe).

 

2 - Sobre o local

2.1 - O trajeto

O Brasil é um país privilegiado com milhares de cachoeiras ao nosso redor então se você fizer uma procura rápida é possível que ache uma pertinho da sua casa.  Comece com aquela que for mais conveniente e fácil.

Um dos primeiros pontos para pesquisar é o trajeto até o local. Em muitos lugares as estradas são de terra e somente carros altos ou com tração 4x4 irão conseguir acesso. Se você não consegue chegar com seu carro, talvez seja melhor convidar um amigo que tenha um carro mais alto, alugar um outro carro ou trocar o destino. Acredite que forçar a barra em terrenos que não são apropriados poderá ser uma dor de cabeça que você talvez não queira ter.

 

 

2.2 -  Dificuldades do local

Qual a distância entre o momento que estacionar até a cachoeira? Qual o tipo de percurso você vai ter que enfrentar: é um terreno acidentado  com várias elevações; um terreno no meio da mata fechada; quais os pontos de apoio entre o seu carro e o ponto para fotografar? Algum lugar para encher a garrafa d'água e se abrigar do sol (precisa levar boné, repelente e protetor solar?)? Caso você se perca, existe algum plano para você voltar (algum ponto de referência, uma bússola)? Se precisar de ajuda existe sinal de celular? Em geral as cachoeiras em propriedades privadas terão uma estrutura de apoio suficiente para você passar um dia gostoso.

 

2.3 - Suprimentos básicos

Não se esqueça de ter bastante água para todo o percurso e se for um percurso longo leve algum tipo de comida para repor as energias. Manter-se hidratado nesse momento pode ser vital, já que provavelmente estará caminhando sob sol quente e irá perder muitas calorias. Leve coisas fáceis de comer uma maçã, banana, frutas secas. Assim você não ocupa tanto espaço e também diminui o peso que irá carregar.

 

 

Isso é tão importante quanto não se esquecer de levar uma câmera. Imagine que você tenha que caminhar 10, 15 km debaixo de sol quente e talvez você não esteja fisicamente preparado. Pode ser que na metade do caminho tenha que voltar ou precisa de ajuda para fazer o restante do percurso. Saber de tudo isso vai te ajudar a preparar nas semanas anteriores e se condicionar para o desafio a frente. Ah, muito importante tenha um bom tênis para o tipo de terreno que irá trilhar.

 

 

2.4 - Dados importantes 

Outra dica interessante (evita muitas surpresas...rsss) é procurar saber um pouco antes se a cachoeira que você irá visitar está em propriedade privada ou pública. Muitas delas pertencem a fazendas e possivelmente terão normas e horário de funcionamento. Imagina se deparar com uma com uma cachoeira que não está aberta para o público? Em muitos lugares, nesse tempo de covid, os eventos estão fechados durante a semana já que o número de visitantes reduziu bastante. Informe-se quando abre e quanto custa (leve dinheiro, já que nem todos os lugares tem sinal para a máquina de cartão).

As estações do tempo... Ir numa cachoeira em tempo de seca, dependendo do lugar, pode ser a melhor opção já que você terá acesso mais próximo. Mas em alguns lugares na seca a falta de água irá impossibilitar a foto.

Por outro lado se você for em tempo de chuva haverá bastante água, mas podem existir outros desafios: o acesso limitado de carro ou a falta de acesso próximo à Cachoeira já que o rio que forma a queda pode estar completamente cheio e aumentando o risco de acidentes.

Não existe uma regra clara, já que cada cada região tem as suas particularidades. O importante é fazer essa pesquisa anteriormente para que não perca o seu tempo ou coloque a sua vida em risco. Lembre-se a segurança em primeiro lugar: se as condições climáticas alterarem durante a sua caminhada ou até mesmo quando você estiver na cachoeira não hesite em cancelar ou diminuir a sua permanência.

 

3 - Tirando as fotos

 

Aprenda um pouco sobre a luz incidente na cachoeira antes de sair de casa. Qual a localização do sol em relação a cachoeira durante o dia (de manhã o sol é de frente, de lado, de costas)? Seria melhor ir depois do almoço ou no final da tarde? Não existe tempo ou luz ruim se você estiver bem equipado, mas ajuda saber de antemão.

Se o local for muito turístico, tente ser um dos primeiros a chegar para ter tempo de estudar o melhor ângulo, posicionar seu tripé e não ter ninguém no seu campo de visão. Prefira durante a semana, se possível!

3.1 - Tente diferentes ângulos

Faça várias composições, mude a orientação entre horizontal e vertical (depois você escolhe no computador a que prefere)

(Fotos: Cachoeira Véu da Noiva, Chapada dos Guimarães / Cachoeira Pedreira, Pirenópolis de Goiás)

 

3.2 - Use o filtro ou exposição HDR

Uma alternativa para o filtro de densidade neutra é ajustar a câmera para fazer fotos HDR (high dinamic range em inglês), ou seja, você vai fazer pelo menos 3 fotos consecutivas: uma com a exposição com a luz no zero, uma com exposição mais longa para capturar os detalhes das partes com sombras e outra com uma exposição mais curta que vai permitir captar detalhes das partes mais claras. Depois disso é preciso mesclar essas fotos em um programa apropriado e você terá uma foto perfeita e balanceada (Photoshop, Lightroom, Aurora, são alguns dos softwares que poderá usar para fazer o tratamento dessas fotos).

A dificuldade de usar essa técnica é quando há muito vento e as folhas e árvores estão se movimentando muito. Em alguns softwares existem ferramentas para diminuir o impacto do movimento de objetos e pessoas, mas nem sempre o resultado é satisfatório.


(Detalhes para ajustar as configurações da câmera para fotos HDR)

     

(Fotos com diferentes exposições para mesclar em HDR)

 

Depois de processadas, esse é o resultado. Foto: Cachoeira do Abade em Pirenópolis de Goiás

 

3.3 - Ajustes da Câmera

Tudo isso vai funcionar muito melhor se você usar a opção de formato RAW nas configurações da sua câmera. O arquivo RAW ou cru, permite fazer a manipulação de muito mais informação na hora de editar do que arquivo compactados, como JPEG. 

Use um ISO baixo, o menor que conseguir. Isso vai te permitir usar uma velocidade mais baixa para poder captar aquele efeito mais esfumaçado da água. Um ISO baixo também vai diminuir a granulação da foto.

Dependendo da sua composição você pode ter um ponto onde o seu foco é nítido o uma outra parte da foto é desfocada. Em geral nas fotos de paisagens e cachoeiras é preferível que tudo esteja focado (para garantir que o cenário esteja nítido). Para isso é importante ter uma abertura pequena do diafragma (f acima de 7.0, podendo chegar até o maior número que a sua lente permitir). Importante aqui é experimentar com várias aberturas e depois decidir no computador qual ficou melhor!  

Depois de tudo isso, não se esqueça de dar um mergulho na água e relaxar um pouquinho! Afinal, trabalho ou lazer, você está num local privilegiado!!!

 

(Fotos: Cachoeira Landi / Cachoeira Bom Sucesso - Pirenópolis de Goiás)

 

Explicando as informações nas fotos:

Abertura do diafragma: f/22

Velocidade do obturador: 2.5 segundos

Lente: 16mm

ISO: 100

 

Gostou do conteúdo? Compartilhe com seus amigos e deixe seus comentários!